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Dias Apocalípticos

Há um choro entalado em mim.
Há uma profunda tristeza trancada na minha goela.
Há um grito sufocado de socorro.
Um desânimo, um cansaço, um desespero amordaçado...
São dias dificeis!
Sinto minhas forças se esvaírem...
Sinto um perder de pernas, de chão, de tudo...
Tudo o que vinha sendo construído, ruíu.
Estou cansada, exausta, deprimida...
Não há para onde correr, para onde fugir.
São dias apocalipticos!
Só resta esperar a doença atacar aos meus próximos, e os mais próximos, e os meus, e a mim... 
Só me resta esperar, ver o que vai sobrar no depois.
Isso se houver esse depois! E se é que eu chegarei até lá!
Serão tantas perdas, que se a doença não me matar, serão as ausências que assim o farão.
O que era pra ser um novo recomeço, um ano promissor, uma evolução de vida... Esbarrou numa doença virando mais um "fim de partida".
Estou doente, e não é do vírus (ainda)...
Estou doente ao ver a falta de empatia, de bom senso... Pessoas sem a menor consciência, consideração... 
Gente levando a situação na brincadeira, se aproveitando pra tirar mais de quem já não tem.
Estou doente de ver todas essas máscaras caindo... Máscaras que já eram usadas antes, pra disfarçar o que agora é evidente!
Estou doente por ver o humano ser desumano.
É tanta falta de humanidade no mundo que seria melhor devolvê-lo aos dinossauros.
Há muitos medos em mim...
Um grito, um gemido de dor emudecido pelo "ter que seguir" e o "ter que ser forte".
Estão tudo tão difícil... São dias apocalípticos!
E se era pra aprender alguma lição com isso tudo é que somos nós mesmos os nossos maiores inimigos, os nossos venenos, os nossos coveiros, os causadores da nossa própria morte!
O próprio humano é sua extinção!
Meus olhos lacrimejam incessantemente. Noite e dia, não importa o ambiente, a ocasião...
Lágrimas ao léu... Sem motivos aparentes... Carregadas com todos os motivos do mundo.
Que desespero! Que falta de esperança!
Ao mesmo passo que sinto orgulho de tanta gente próxima, e de tantas outras preocupadas com seus próximos e os não próximos também... (Tem tanta bondade rolando, tanta benfeitoria, tanta coisa boa acontecendo...)
É o grito do desespero à falta de humanidade que me canaliza o foco! Que me desnorteia a mente!
Estou tentando! Visto os meus sorrisos, as minhas piadas, o compartilhar de memes engraçados, viro suporte para amigos, conforto para os próximos... Tento fingir pra mim mesma que está tudo certo, está tudo bem... Deixo de pensar em tantas coisas para não me paralisar de pânico. Para não voltar a ter crises...
Mas a cada dia que passa, a ladeira é mais incrime! E tudo vai desmoronando... Rolando... Caindo... Ruíndo... Espatifando... E cada dia mais... E mais... E mais...
Queria poder acreditar que o final está próximo, que tudo ficará bem, que haverá um grande salto de evolução pós pandemia.... Mas não! Não haverá, não será breve e nem vai ficar tudo tão bem assim!
Afinal de contas, o recomeço é sempre mais lento!
Há em mim um choro calado, um desamor pela humanidade, um descrédito no futuro...
E assim seguirei...
Vestindo sorrisos falsos e noites mal dormidas...
Seguirei até onde eu consiga ir...
Até!

Mariana Lohmann (01/05/2020)

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