Pular para o conteúdo principal

Tudo No Seu Lugar

É estranho como uma simples frase pode ser dita e recebida/sentida de formas tão diferentes e opostas!

_Tudo está onde deveria estar!

Um dia desses ouvi isso da pessoa que amo; enquanto eu, no meu amor desesperado, ansiava assumir a relação que temos para que o universo soubesse que não importa a distância, nem os acordos que fizemos (não importa se nossa relação é aberta ou não), nós nos amamos e somos um do outro como qualquer outro casal de “namorados”. Mas ao receber essa frase meu coração se dilacerou e tudo desacelerou, murchou como um botão de rosa que nem chegou a se abrir e já foi queimado pelo sol.

_Então, tudo está mesmo no seu lugar?

Me senti inerte, parada, congelada, sem ter mais pra onde expandir. Será que é possível estagnar o que sentimos? Será que é possível amar e se entregar numa relação sem se expor?
E ali fiquei... no vácuo, no vazio, no frio de uma relação que não vai evoluir. Antes eu era a amante, mas e agora? 
Sinto-me como se continuasse a ser a outra, a que consola, a que compreende, a que preenche o espaço que não é preenchido, a que faz tudo isso às escuras e às escondidas. Agora eu sou a amante da “liberdade” dele, completo o que ela deixa em aberto, preencho o que ela não supre, dou aquilo que a “liberdade” dele não pode dar. Mas ainda sim sou simplesmente a outra.

_Será que tudo pode estar na mesma medida?

Há alguns meses atrás eu me sentia vazia, sem amor, sem amar de verdade ninguém. Tudo o que meu coração sentia eram amores inventados. E então eu conheci alguém que no início era igual a todos os inícios, melhor ainda, era alguém por quem eu não corria o risco de me apaixonar ou de se apaixonar por mim, alguém que já tinha elegido a dona do seu coração. Meses se passaram, poucos encontros aconteceram, mas a necessidade de estar conectados, mesmo que virtualmente, começou a aumentar. E foi então que um dia a corda arrebentou soltando o coração dele...
Nesse instante o meu coração que andava solto e sem dono quis se prender. E eu sem entender que papel assumiria depois que deixei de ser a outra.
Mais algum tempo se passou, um tempo sem se ver, um tempo de abrandamento... E quando os corações voltaram a se encontrar, tudo era mais intenso, tudo era mais vívido, tudo tinha um novo sentido... Eu estava amando! Mas ainda reprimia, ainda não aceitava esse amor que me ardia inteira. Foi então que o coração dele se abriu e eu me derreti.
Eu estava amando como há muito tempo não amava. E eu me entreguei, me deixei levar, me arrebentei inteira, me deixei queimar...

_ Onde mesmo que tudo deveria estar?

Enquanto eu ainda vagava, andava sem saber qual era o meu papel... Enquanto eu ainda estava confusa, eu conheci um outro alguém. Um outro alguém que também tinha o seu coração preenchido. Um alguém que no início era só um outro alguém, uma segunda opção, o outro. Entre muitas conversas e pouquíssimos encontros, houveram muitas confidências, muito consolo, muitas palavras amenizadoras, muito carinho verbal, muitos cuidados...
Mas ainda assim continuávamos a ser apenas a segunda opção.
Até percebi que o meu coração, mesmo amarrado começou a ser tocado, de leve, de mansinho, sem a intenção de ser invadido. E enquanto o meu peito de um lado inerte, congelava, preso num amor visceral; do outro lado sentia um fluido se expandir, brando, calmo, sereno... 
E quando percebi eu estava amando, mas não sabia se era real ou inventado, se era uma defesa do meu coração para não me sentir sozinha ou se aquilo que eu estava sentindo era mesmo amor. Então calei. Não quis saber se era um outro amor ou um novo amor. Preferi pensar que tudo continuava no mesmo lugar, na mesma medida, que ele continuava a ser o outro, o segundo.

_Tudo aconteceu como deveria acontecer!

Um dia eu não amava ninguém, no seguinte eu passei a amar e no outro eu também amava o outro.
Um amor que me arrebenta, que me explode, que me alucina, que é extremo, que não permite meio termo, que me tira do centro.
Outro amor que me acalma, que me tranquiliza, que me branda, que me freia, que me inspira ternura, que me surpreende na sua simplicidade.
Dois amores tão distintos e na mesma medida!
Um amor maduro e intenso que devasta tudo e queima, outro amor tão fresco e intenso que transforma tudo em brisa.
Ambos amores à distância, que tiveram o mesmo início, que não pretendiam amar "a outra", "a segunda opção"... Amores que me pegaram desprevenida! 
Eu estou amando, amo dois, eu amo!

_ Tudo está onde deveria estar!

Não foram essas palavras que eu usei, mas é essa a sensação que tenho ao saber que meu outro amor também me ama e que seu coração também não tem mais amarras. 
Talvez tudo seja cíclico e um dia esse outro amor que hoje me acalenta, pode vir a me murchar, a me queimar, a me arrebentar. Talvez o fato dos acontecimentos estarem se repetindo seja um sinal de que um dia tudo vai estar inerte, de que quando a relação alcançar um certo nível de intimidade ela vá parar de evoluir. Como saber??? Como saber se são apenas coincidências ou se são na verdade um alerta para não seguir em frente???
O certo é que tudo que está acontecendo entre meu outro a amor e eu está onde deveria estar, na medida certa, no lugar. Tudo ainda é tão recente, o sol nem surgiu ainda e não me sinto na urgência de evoluir a relação, cada passo está sendo dado conforme o espaço vai se expandindo... Lentamente... Carinhosamente...

_Tudo no seu lugar!

Como pode uma simples frase ser dita e recebida/sentida de duas formas tão diferentes e opostas?!


Mariana Lohmann (07/09/2012)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Declarações (Nadal Goulart)

Era uma segunda a noite Deitados a cama olhando um filme Eu disse q a amava e confirmei com um abraço Foi de surpresa, eu assumo "É você falando ou é a cerveja?" brincou ela comigo "Sou muito eu dizendo isso, e juro de agora em diante beber todas as noites e reconfirmar o meu amor!" Foi a desculpa mais esfarrapada de todas Que este farrapo achou para beber e ser compreendido Segundos depois da declaração nos olhamos Rimos Beijamos E voltamos ao silêncio de um contemplar em par De duas almas ímpares (Link:  Contos de Nadal: Declarações )

Família

Família... Quem de fato é nossa família? Muitas vezes quem tem nosso sangue nem sempre podemos considerar nossa família. Hoje fui no velório de uma tia "emprestada", que há muito tempo eu não convivia. A parte mais louca dessa história toda é que ela era irmã de um falecido ex-padrasto ao qual eu não gostava nada. Então me pego pensando que tive mais contato com ela, e os parentes que vim a conhecer desse ex-padrasto, que com meus parentes por parte de pai. Aliás, mais contato com eles que com o meu próprio pai. Da família "Cunha da Silva" eu mantenho contato com a filha dessa tia, a Cibele, de apelido Bebê, a quem tenho por prima desde que a conheci, e que me reconhece assim também, mesmo sabendo que de fato quem é primo dela é meu irmão. E tenho como irmã a filha mais nova do meu ex-padrasto, a Michele. Ambas são parte importante da minha existência, muito mais que alguns irmãos (ou meio irmãos) que tenho. Ainda que eu seja uma pessoa um pouco distante das pessoas...

Lágrimas na Chuva...