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Os Três Cordeiros...

Numa terra distante, em época de deslocamento de rebanho por condições climáticas, um fazendeiro muito poderoso contratou um pastor de cordeiros chamado Hidi para deslocar seu rebanho de um lado a outro de suas terras garantindo a sobrevivência de todos os cordeiros.
Durante o primeiro dia do deslocamento, Hidi estava de armas em punho, pronto para salvar o rebanho de qualquer animal selvagem que se aproximasse. Entretanto a noite chegou e com ela o frio se instaurou. O pastor puxou seu cantil que continha "um certo líquido" e bebeu na tentativa de se aquecer. Estava quase adormecendo quando reparou que um lobo o espiava. Levantou-se prontamente e espantou o lobo.
No segundo dia, seguindo o seu destino, Hidi teve a sensação de estar sendo seguido, mas não encontrou ninguém. A noite se aproximou, com ela o veio o frio e o pastor puxou novamente seu cantil. Dessa vez a bebida lhe parecia mais prazerosa. Cantou, dançou e quando estava quase adormecendo percebeu que o mesmo lobo o espiava. Levantou-se e espantou o lobo.
No terceiro dia, seguindo sua viagem, o pastor manteve a sensação de estar sendo seguido, mas os soluços causados pela "tal bebida" não lhe permitiam investigar mais a fundo quem o acompanhava no percurso. Então veio a noite, o frio e pastou catou seu cantil para se aquecer. A bebida estava cada vez mais doce. Cantava. dançava e falava com os cordeiros. Tinha a nítida sensação de que os cordeiros lhe respondiam. E ria, ria muito, ria tanto que caiu no chão e quando estava quase adormecendo, enxergou o lobo rindo. Levantou-se com certa dificuldade e espantou o lobo.
No quarto dia, faltando apenas mais uma noite para chegar no lugar combinado, Hidi sentiu-se alegre e esqueceu que estava sendo seguido. A noite e frio convidaram o pastor a beber do seu cantil o "tal líquido" prazeroso, doce e tentador fazendo com que ele cantasse, dançasse, conversasse com os cordeiros, risse e caísse no chão de tão tonto, oferecendo ao lobo sua bebida antes de adormecer.
O lobo pegou o cantil, bebeu um gole e reparou que os cordeiros estavam assustados. Ofereceu-lhes a bebida, mas os cordeiros partiram em disparada, sobrando apenas duas cordeiras que durante todo o percurso chamavam a atenção do pastor, tinham frio e toda noite lhe pediam um gole dessa bebida mágica.
O lobo vestiu-se com uma pele velha que o pastor usava como coberta e convidou as duas cordeiras para apreciar a "tal bebida mágica". Os três beberam, cantaram, dançaram, conversaram e riram. Em altas horas e já totalmente alcoolizadas, as cordeiras já não diferenciavam o lobo dos demais cordeiros. Uma das cordeiras caiu, estava mais embriagada que a outra, mas não adormeceu, ficou rindo, cantando e chorando... A outra sentiu-se fortemente atraída por aquele belo cordeiro que lhe dava bebida na boca, que lhe beijava com tanto ardor, que lhe acariciava com tanto desejo... Foi então, que o lobo, sabendo o que ia acontecer e também muito embriagado, avançou em direção da cordeira seduzida que deu um salto e correu até um arbusto deixando a outra cordeira a mercê do lobo.
O lobo deitou-se ao lado da cordeira que ainda ria, cantava e chorava; a abraçou forte, a beijou cheio de desejos e a seduziu. A cordeira completamente entregue ao lobo, sem sua companheira nem o Hidi para lhe defender foi fervorosamente devorada. Sua companheira a espiava com horror e não entendia por que ela não havia fugido das garras do lobo, por que havia se entregado com tanta facilidade...
Ao amanhecer, todos os outros cordeiros retornaram acordando o Hidi que seguiu seu caminho até o seu destino. Ele estava envergonhado pela sua ausência e pediu desculpas aos cordeiros, mas nada iria fazê-los esquecer da horrível noite que eles haviam passado. Nada.


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