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Dionísio X Borboletas

Dionísio tem medo de borboletas (ou "Botoletas" como ele chama). Tudo começou na primavera-verão passado quando uma "Botoleta" gigante sobrevoou a nossas cabeças quando chegávamos em casa da creche. Não sei o que de fato assustou ele, ela era linda, chegou a pousar no chão antes de seguir viagem. Desde então ele tem verdadeiro pânico de "Botoletas".
Isso era engraçado, ríamos dele e da situação cômica dele fugindo desses insetos com asas. Mas começou a tornasse um problema quando ele se negava a ir brincar na rua. Passamos a ficar apreensivos toda vez que víamos uma, torcíamos pra ele não ver. Findado os dias quentes, tudo voltou ao normal.
Com o início dessa primavera, prevendo mais gritos histéricos dele, conversei com ele antes da estação chegar, dizendo que com o nascer das flores borboletas e abelhas começariam a aparecer pra se alimentar pq elas comem "suquinho de flor". Ele passou a ficar mais atento. Reinterei o que venho dizendo sempre: - Filho, as "Botoletas" são "abigas", não fazem mal algum, não precisa ter medo. Já as "abelas", evite porque elas podem te picar!"
A partir daí, cada vez que ele via uma flor, uma abelha ou uma borboleta, sendo reais ou em imagens ele repetia o mesmo texto: -"Botoletas e Abelas são abigas né mãe? Só comem o suquinho da flor, né?" Mesmo apreensivo, ele parece estar lutando contra o medo dele.

Tenho uma fronha que tem borboletas desenhadas, estou usando no meu travesseiro que é mais alto que os outros que tenho. Ontem ele decidiu que iria dormir no meu travesseiro, antes de dormir contou as "Botoletas", brincou e estava contente. Fui tomar banho e quando voltei ele já estava adormecido.
Qual não foi o meu susto quando acordo com os gritos dele em pânico na madrugada, ainda sonhando, dizendo: - "aaaaaa... As Botoletas mamãe!". Tentei acordá-lo, o abracei dizendo que tava tudo bem, mas ele se contorcia e gritava de medo. Não aceitava meu abraço. Chorava e berrava, se esquivava do meu toque. Fiquei dizendo que elas eram amigas, não tinha nada a temer, até que ele acordou e disse chorando ainda: -"Acordei, mamãe!", mas seguia se esquivando do meu toque embaixo da coberta, berrando, se encolhendo e apertando os olhos de medo. Nesse momento eu já tinha ligado a lanterna do celular e liguei também a luz do quarto pra mostrar que estava tudo bem. O convidei pra ir até a cozinha tomar uma água e fazer um mamá. Ele aceitou, já mais calmo e bem acordado. Sentei ele na mesa enquanto fazia o mamá e perguntei o que ele tinha visto no sonho, ele disse: -"Tinha Botoletas nas tuas mãos, mamãe!". Isso me fez entender pq ele se esquivava do meu toque.
Voltamos pro quarto, pesquisei vídeos de documentários sobre as borboletas e ficamos quase duas horas assistindo, conversando e brincando. Ele disse: -"Olha mãe, sou uma borboleta, olha minhas asas!". Perguntei que cor ele era e eles respondeu que era Rosa. Pesquisei imagens de borboletas rosas e encontramos Gifs que se mexiam, ele achou engraçado e dava gargalhadas com as borboletas batendo asas.

Pra quem não sabe eu tenho síndrome do pânico e o período de crises mais intenso foi durante a gestação. Tanto que foi considerada uma gestação de risco por causa disso. A psicóloga que acompanhou minha gestação alertou a mim e ao pai do Dionísio que ele poderia ter crises de pânico também, mais aos 7 anos, que era pra gente ir controlando pra ele também não desenvolver a síndrome. Essas memórias vívidas na gestação poderiam vir a qualquer momento e era preciso estarmos atentos.
Nós adotamos a postura de nunca o assustar, essa história de "velho do saco", ameaças com desconhecidos ou tentar vencer teimosia induzindo medo a coisas externas estava fora de questão. Claro que tem coisas que vão além da educação que damos. Ele sofre influência de tudo e todos que o rodeia. Certa vez ficou impressionado com o "fanfasma" de um episódio da Patrulha Canina, pessoas do convívio brincam de o assustar com histórias de lobos, escuro e etc, eu mesmo já tive uma conversa séria sobre "os homens maus que batem e gritam com as crianças na rua" porque ele é uma criança muito sociável, e poderia facilmente ser alvo de sequestro ou coisa pior.

Mas o fato é, que esse pânico por borboletas ele tem desenvolvido sozinho, sem ajuda externa, a não ser mesmo a própria existência das borboletas. Essa noite meu filho teve a primeira crise de pânico, paralisou aos prantos na cama. Espero nunca mais presenciar isso!
Me sinto culpada, apesar de saber que não há culpados, não pedi pra ter essa doença, ela se desenvolveu em mim alimentada pelos meus medos, principalmente os medos de não aprovação e aceitação, espero que ele não chegue nesse nível. Tenho a esperança de que vou conseguir o fazer superar os seu medos como eu tenho feito todos os dias!
Com amor, sempre! ❤️
Mariana Lohmann (28/10/2018)

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